09 dezembro, 2009

sobre a mesa-de-cabeceira: Firmin - Sam Savage

História de fácil leitura, muito original e com notas de humor e sarcasmo, narrada pelo personagem principal o pequeno e frágil Firmin - ratazana que bem podia ser um humano (ele às vezes pensa que é um humano).

02 dezembro, 2009

só(l) com dó
compasso tomado no pulso
enquanto a chuva lambe sem pressa a janela.
hoje voltei a senti-las
traças armadilhadas no estômago
asas atormentadas que desejam sair,
queria eu!
ao canto, observo.
o ar rarefaz.
de costas coladas ao mármore frio
espero
estremeço de dentro para fora
começo a suar
sabe a sal
aquela música de novo
sabe a dor
aquele silêncio de sempre
sabe a nada.

16 novembro, 2009

sobre a mesa-de-cabeceira: Caim - José Saramago

Narrativa perspicaz, irónica e com um bom travo de humor que culmina num final genial. Ou seja, com a aceitação da existência simultânea de Deus e do homem como resultado da evolução das espécies - como que a agradar gregos e troianos.
Por outro lado, poderá ser visto como uma sátira, onde o Deus grande e todo poderoso cujos desígnios são inescrutáveis aniquilou o homem, feito à sua imagem e semelhança, por ser uma má obra (é Deus também uma má obra?) tendo este que retomar ao mundo através dos animais.

29 setembro, 2009

No teu cabelo toco ao de leve com a ponta do pensamento.
Vejo-te enrolada na manta de xadrez azul, aquela que nunca me deixas usar por teres medo que me conte um dos teus segredos, ou então, que bem espremida solte alguma das tuas lágrimas.
Aí te tenho na cama de rede, que ambos montámos naquele fim de tarde de primavera, embalada por um chopin que já deixou de tocar no gira-discos que trouxeste de casa do teu pai.
Velo-te daqui, meu amor, bem longe.

16 julho, 2009

é pá!

À entrada do metro levei com todo o peso de um puto de +/- 5 anos sobre os dedos do meu pé direito. não que ele fosse muito pesado, eu é que estava de chinelos e, diga-se, não foi aprazível, além de ter ficado com o pé todo sujo.
Que o miúdo não pedisse desculpa, não me admiro, dou-lhe o desconto de ser uma criança (mas não diz o povo que de pequenino é que se troce o pepino?). Mas agora a mãe?! Não só não chamou a atenção do filho para o que tinha feito, não o corrigindo, como nem sequer me disse nada! ainda por cima no resto do caminho, além de acautelar os pés (ai não!), tive que ouvir o típico "segura-te se não cais!" (não deveria ser ela a segurar o puto pela mão?).
Como não tenho filhos e não sei se os virei a ter, são dúvidas que não encontram resposta... de respondidas que já estão.
De qualquer forma relembro: as crianças de hoje serão os adultos de amanhã. obrigada pela (des)educação que lhes dão!

15 julho, 2009

a repartição da "rua sésamo"

Ultimamente tenho frequentado um sítio estranho. Acolhe-me sempre com filas de espera intermináveis de pessoas com papeis/pastas plásticas nas mãos e olhos, ora no pulso a controlar os minutos que já se passaram, ora no LCD que teima em não mostrar o seu número. Tem à entrada uma máquina cheia de botões que devemos premir para tirar a senha da secção correspondente ao assunto que se quer tratar e, embora indique os serviços que se podem fazer em cada secção , acaba-se sempre por tirar mais do que uma senha porque o que vamos lá fazer não está directamente especificado em nenhuma delas.
Esse sítio, atrás do balcão, para além de uma grande confusão de arquivos e tralha semelhante, tem também grande dose de má vontade, mau humor e mais uns quantos síndromas, que não me lembro de momento, frequentes nas pessoas que costumam trabalhar nesse tipo de locais, que salvo rara excepção nos presenteiam com a sua cara de frete e que pedem licença a uma mão para mexer a outra - não porque tenham alguma doença do foro ortopédico mas simplesmente porque lhes deve dar um gozo tremendo ver uma imensidão de pessoas impacientes para "estar" com eles.
Se estão a pensar que me refiro à classe denominada de funcionários públicos, os meus parabéns pois acertaram! no entanto, como eu não sou o jorge gabriel e muito menos o malato e, nem isto é um concurso, ganham absolutamente nada!
Voltando ao sítio, tem na entrada à vista de quem queira ver o logotipo alterado (parece que está mesmo na moda o meu tom de azul preferido, que por acaso também é o do logotipo da TMN e mais recentemente o do da PT; ele há gente imitadora!) com as belas das letras brancas que juntas formam as palavras dolorosas "finanças - direcção geral dos impostos". não interessa identificar a qual delas me dirigi (não são todas iguais?) para não ferir susceptibilidades, basta dizer que é aquela que me faz dar menos passos para lá chegar (síndromas de funcionário público são contagiosas?).
Finalmente chego ao cerne deste post, o que hoje me fez sapatear os dedos pelo teclado do PC, tal aranhiço a tentar soltar-se de algo que o prendeu...
Enfim, nesta repartição de finanças há um funcionário que embora não esbanje simpatia, mostra-se bastante prestável (não é para isso que lhe pagam?). Mas o melhor de tudo é que descobri finalmente com quem o achava parecido! txanãaa!!! Com o becas da rua sésamo! é certo que não tem uma cabeça de bola de rugby com um espanador no cocuruto mas de um modo geral, são cara chapada!
23 números e não sei quantos minutos (muitos - quem espera acha sempre que são muitos) depois, chegou a minha vez mas para meu azar regressei com o assunto por resolver. Na próxima semana lá terei de voltar à repartição da "rua sésamo" e, talvez enquanto espero, encontre o parceiro (egas) do sr becas.

28 junho, 2009

a mística de um jardim ou o cheiro a terra molhada provoca estados delirantes

Numa incursão pelos verdes e castanhos molhados pela chuva matinal que caira nesse dia de verão, encontrei um recanto simplesmente mágico, tal qual saído de um qualquer romance, que despertou em mim algo que ainda não consigo explicar. Uma voz que não ouvi convidou-me a parar em frente àquele palco de pequenas pedras castanhas e gentil à minha sensibilidade presenteou-me, nesse preciso instante, com um bailado, que nunca fora coreografado apesar do sincronismo, de centenas de folhas douradas, num pano de fundo verde sobre verde.
É como se as tivesse a ver agora!

22 junho, 2009

flocos de neve ou uma meia de leite sff

Parece que a estação do ano conhecida como verão está oficialmente iniciada, desde ontem. Despedimo-nos da primavera com um calor abrasador de temperaturas bem acima dos 30 ºC.
Contudo, é já desde o início de junho que se pode admirar o belo do tom de caramelo na maioria dos tugas, favorecido pela migração ao sul do país nas ricas mini-férias que os feriados deste mês proporcionaram. Ainda bem que estamos em crise!
No entanto, não me incluo nem no grupo que foi a banhos, nem no dos "caramelos". Eu é mais "flocos de neve" sem celofane vermelho! Pois... continuo e, a experiência diz-me que vou continuar, a exibir o meu tom de habitante nórdico. Talvez com alguma sorte (muita!) no final do verão esteja em "meia de leite" mas com pouco café, sff!!

27 maio, 2009

sobre a mesa-de-cabeceira: Lixo - Irvine Welsh

Lixo. Pode ser muita coisa. Neste caso, apenas é aqui referido por se tratar do nome do livro que acabei de ler recentemente, cujo autor é Irvine Welsh. sim, aquele que escreveu o "trainspotting".
É um livro tão perverso e ordinário que acaba por se tornar cómico! Um fartote!
Podem-se concontrar pérolas como:

  • «(...) não vai demorar muito a voltar. Ela sabe muito bem de que lado do pão está a manteiga.»

  • «(...) não te rales com a lareira quando estás a espevitar o fogo, é esse o meu lema.»
  • «(...) uns montes de rugas, pés de galinha, pescoços engelhados e banhas, mas foda-se, carneiro ou cordeiro é tudo carne (...)»
Este blog faz uma descrição muito boa do livro:
nlivros. blogspot.com/2008/04/lixo-irvine-welsh.html

13 maio, 2009

a simplicidade do espontâneo ou um rasgo de luz em mais um dia cinza

Saída do metro no Martim Moniz e já na penosa subida, ao bater da chuva, pela rua de s. Lázaro. É sábado de manhã, 8:58 - já vou atrasada, talvez não! como alguém me disse um dia "tens patins nos pés".
Continuando. À porta de uma das casas, confortavelmente instalado ao colo de uma senhora (mãe?) está um bebé. Somos desconhecidos, mas isso não o impede de me presentear com um enorme sorriso que revela os seus primeiros 8 dentes de leite. Os seus olhinhos brilham de Euforia como se quisessem saltar, enquanto a sua mãozinha carnuda desenha um adeus repetido.
Sorri e continuei a sorrir. Somo a beleza está na espontaneidade de um gesto tão simples.
São estas pequenas coisas que nos acalentam e tornam os dias menos cinzas.

09 maio, 2009

só ou comigo?

Diz que hoje é o meu aniversário. junto, portanto, mais 1 ano ao meu já quarto de século. embora para o meu avô tenha 23 eternamente.
[no ano passado:
[- (...) fazes 23 não é?
[- não, avô! são 25!
[-25? já?
[este ano:
[-(...) fazes quantos? 23 não é?
[- não, avô! já são 26...
[-é pá! já são 26? c'um carago!
pois é! c'um carago! é sempre a somar 1, não há nada a fazer.

Cheguei a casa e fui-me enfiar entre tachos. Desarrumei meia cozinha e sujei a outra metade. Tudo isto para uma experiência que se veio a revelar, digamos que do tipo "come-se" ou "não voltar a repetir". Não que eu cozinhe mal, mas por ser uma daquelas receitas que "parece melhor do que aquilo que sabe". Salvou-se a sobremesa, que na verdade foi o meu bolo de aniversário, diga-se tarte de aniversário (chamemos as coisas pelos nomes).
Cantei os parabéns a mim, aplaudi-me e soprei a vela cor-de-rosa cravada no meio dos morangos, tal farol solitário. Bisei a dose. não lambi os dedos nem o prato.
Fim da festa. Hora de voltar à cozinha e tentar deixar tudo como estava.

04 maio, 2009

dilemas d'artista

Eis o artista diante da matéria prima.
As mãos ainda limpas percorrem o papel imaginário,
as ideias confluem mas nenhuma quer assentar.
Sobre o que é que vai ser hoje? gripe A (H1N1)? Crise? Benfica?
(bocejo)
vai mas é trabalhar!

28 abril, 2009

armadilha

Agora que passo aqui vejo o libertar agoniante do teu perfume. Vejo como ele se espeta em mim tal agulha que não encontra veia.
Agora sou eu quem exala essa humidade doce, enjoativa. Não está colada, ela já sou eu.
Aprofundas as tuas raízes em mim. Quero vomitar, não consigo, sinto-me sufocar enquanto te estendes cada vez mais.
Absorves como se nunca tivesses comido na vida. Desmaio. O meu sangue já é tua seiva.
Doentiamente vês-me definhar, secar, sem te aperceberes que somos apenas um.
Se pudesse rir, ai como chorava de tanto rir.

23 abril, 2009

teu olhar

Prefiro encarar esse teu olhar como desprezo,
a dor é maior mas a ferida pequena.
no meu banco vejo-te passar
menos vezes do que queria,
mais vezes do que o coração aguenta.
oh pedaço de carne sem Razão!
Tocas ao compasso da adrenalina
uma peça desconhecida em mezzo forte.
E oiço-te e sinto-te repetidamente
só terminas quando queres.
Procuro a sombra,
o restabelecer do equilíbrio quebradiço
camuflado em capa fina.
Prefiro deixar de encarar esse teu olhar.

22 abril, 2009

Dia da Terra

Hoje é o dia da Terra. Não da terra matéria do solo, mas da Terra planeta cujas criaturas habitantes insistem em não preservar os seus recursos - é a ver se o Pai Natal traz outro no próximo Natal. Embora crente no sr. roliço vestido de vermelho, não me parece que ele traga outro, mas só porque não há meninos bem comportados!
Em Portugal, continua a existir falta de educação e sensibilização ambiental, muito esquecimento e falta de boa vontade. Ora veja-se:

  • Parece que o Plano Nacional de Desenvolvimento Sustentável ou caiu em saco roto ou quem o prometeu come muito queijo - regime alimentar, aliás, muito frequente na classe política.

  • Estamos em crise - novidade nenhuma! - mas conseguimos que houvesse um aumento drástico da intensidade energética, ou seja, uma vez que esta é um indicador do consumo de energia em relação ao PIB significa que estamos a consumir mais energia face ao desenvolvimento económico que apresentamos. Será que ninguém se queixa do valor da factura que os srs da EDP nunca se esquecem de enviar?

  • A azelhice na condução, felizmente não toca a todos, e mesmo que toque, há que mostrar o belo do veículo aos transeuntes, estacionar nos passeios e em 2ª fila, não cumprir as mais variadas regras, entretanto já esquecidas, do Código da Estrada, dar a moedinha ao "técnico superior de indicação de lugares de estacionamento à vista de todos", ao mesmo tempo que evita os apertões e pisadelas nos transportes públicos, a cara no sovaco do que está ao lado, os germes e os suores. Atenção: mais carros implica maior gasto energético, mais emissões (maior efeito de estufa/alterações climatéricas), mais congestionamento, mais poluição sonora.

  • 3 100 000 000 000 litros de água são desperdiçados por ano, neste nosso lugarzinho, ironicamente, à beira mar plantado. Jesus Christ!! Nem sei dizer este nº, de tantos zeros que tem! Onde anda a gestão dos recursos hídricos? Diz que a aprovação do Programa Nacional para o Uso Eficiente de Água já foi aprovado à mais de 8 anos - deve estar em águas de bacalhau! Ora vamos lá ter atenção às torneirinhas! Aviso: uso eficiente da água diminui valor da factura mensal.

  • Muito se houve falar em reciclagem. Estamos no bom caminho: reciclamos mais mas ainda é pouco. Em contrapartida esquecemo-nos dos outros 2 R's. Não é pelo facto de haver forma de algum do nosso lixo ser transformado e reaproveitado que nos podemos dar ao luxo de não reduzir o consumo e, consequentemente a quantidade de lixo, e não reutilizar embalagens sempre que possível.

  • O Governo continua a estimular a construção. É bom que não se esqueça dos Planos de Ordenamento do Território para as áreas protegidas.
Contribuamos todos para uma maior sustentabilidade. Em pequenos gestos diários está a diferença e muitos pequenos gestos fazem um grande favor ao planeta e seus habitantes.

21 abril, 2009

metro

Caixas de fósforos metálicas electrizadas, mergulhadas nos bolsos da terra onde suor, fadiga, bocejos, espirros e catarros vão ou vêm.
uma mulher com voz colocada anuncia a próxima paragem e segundos depois abre-te Sésamo! Com mais ou menos pressa, trespassam a faixa pintada de amarelo centenas de corpos por dia, uns com mais ou menos vida, uns com mais ou menos vontade de viver, mas todos movidos a obrigação. O estridente sinal sonoro antecede o fechar da porta.
Mescla de cores e cheiros partilha bancos ainda quentes ou um suporte suado onde se agarrar. Troca olhares, quase sempre encontrões. Desfile de pensamentos sem controlo nem radiografia possível que exponha um qualquer pecado capital, uma preocupação ou satisfação.
Numa dessas incursões ao subsolo é fácil encontrar o toque-toque de bengaladas, a par do pregão de auxilio ao ceguinho e dos tinidos de moedas, poucas e de pouco valor, dentro de uma garrafa pequena de plástico cortada. Quando a esmola é generosa e lá cai 1€, parece que ao ouvido apurado pela necessidade chega um som diferente, que faz o cego tirar a moeda do copo e guardá-la no bolso.
Há pelo menos quatro. Sinto pena, impotência e consciência pesada. Da próxima vez darei alguma moedas e depois, às palavras de agradecimento e votos de saúde e boa sorte, responderei com um esgar que, talvez, alguém assemelhe a um sorriso ténue de mais uma obrigação cumprida, mas que ele jamais verá.