16 junho, 2010

A bela e o ácido

Qualquer aparente semelhança com a estória da Disney é pura coincidência.

Ao que parece, o ácido não serve só para atirar à fronha do/a namorado/a quando este/a nos dá com os pés, também já se pode atirar às portadoras de beleza ofuscante que nos enfrentem. E foi assim na Colômbia, na noite de véspera do concurso de misses lá do sítio. Convém salientar que ela era uma das favoritas e que enquanto estiver "mumificada" apenas vai poder imaginar o bonito estrago que lhe fizeram. Já as possidónias das colegas estão sob investigação.

Quando eu disse "já se pode atirar" é melhor não levar à letra, há quem possa levar isso a mal! Os senhores da jurisprudência, se não forem cegos como a justiça, podem considerar isso "crime contra a integridade física" e aí a coisa pode correr mal para o lado do "aspergidor" mesmo alegando "estava numa garrafinha sem rótulo, e eu que pensava que aquilo era água benta! só queria deitar-lhe uma gotinhas para exorcizar os demónios da feiura e lhe proporcionar um sono de beleza!".

Pelo sim pelo não, não tentem isto em casa, nem dentro de carros à beira de penhascos, nem em qualquer outro sítio, porque se durante a fase de premeditação se esquecerem de incluir na lista de compras uma máscara e luvas podem ficar respingados e segundo consta, os ácidos são umas coisinhas com tendências corrosivas e tóxicas. Apenas uma chamada de atenção.


http://aeiou.expresso.pt/misses-sob-investigacao-apos-ataque-com-acido-a-uma-delas=f588340

14 junho, 2010

Desço a rua com a chuva miúda a fazer escolta. Passos rápidos, olhos atentos à merda de cão. Marcho ao comando do dever. Perto de mais e sempre tão longe. Quero acreditar que um dia saberei do quê. Por agora apenas sinto que me escorre como esta água que o céu chora. Escapa sem que eu queira apanhar, como a vida escapou àquele pombo quando os olhos se fecharam e os ossos lhe furaram o peito. Para que ter asas se não nos servem, se não nos deixam usá-las? Num dia em cima da árvore, num outro inerte nas pedras da rua enquanto a chuva dilui o sangue da ferida aberta. Mas quando estamos já inertes nas pedras da rua caímos para onde? Ele espera que o cantoneiro o varra para o lata do lixo e eu espero continuar a acreditar que um dia saberei o que é que tenho perto de mais e que se me escapa, sem que eu queira apanhar e por isso sempre tão longe.

24 março, 2010

Quando me procurares, talvez já não me encontres. Não pedirei a ninguém, não por orgulho mas por ter que ser assim. Com as minhas próprias mãos abro o pipo da bóia de salvação que me segura a lado nenhum. Oiço o lento esvaziar demorado. Abandonam-me as falhas, escapam-se as faltas, larga-me o ar que um dia entrou e que nunca me pertenceu. Quando entrares e um sopro frio te beijar de raspão, não tenhas medo, sou eu que num último suspiro me despeço de ti.

15 março, 2010

sobre a mesa-de-cabeceira: Os Cus de Judas - A. Lobo Antunes

Admitindo a minha ignorância, confesso que desconhecia o tema do livro quando o comprei. Compra esta, apenas motivada pelo fascínio que o título me oferecia sempre que o via numa livraria e me atraía como um íman. Os Cus de Judas. Estava longe de imaginar que fossem os locais por onde a guerra andou em tempos de colonialismo, contudo em nada me fizeram arrepender de os ter tido "sobre a mesa-de-cabeceira".
Também nunca tinha lido Lobo Antunes. Minto. Por vezes leio as crónicas que escreve para a Visão.
Aparentemente um caos, é uma prosa altamente poética, repleta de flashes de Polaroid que nos encandeiam e despertam as mais variadas emoções.

"gostava (...) de lhe oferece o meu retrato em coração de esmalte para você usar quando for gorda, porque será gorda um dia, descanse, todos nós seremos gordos, gordos, gordos como gatos capados à espera da morte nas matinées de Odéon"
"ouvir nascer a própria barba nos serões vazios"
"iniciei a dolorosa aprendizagem da agonia"
"branco sopinha de massa cujo esforço para falar o torcia de caretas de defecação (...) as bochechas possuiam qualquer coisa de anal e o nariz se aparentava a inchaço incómodo de hemorróida."
"puxando um cobertor de terra por sobre o sangue dos cadáveres"
"galinhas, pássaros imperfeitos reduzidos a um destino de churrasco"
"dentro do útero da minha mulher uma criança prestes a nascer socava às cegas as grades de carne da sua prisão"
"escute-me como eu escutava o rápido latir aflito do meu sangue nas têmporas"
"Perguntei [ao capitão] onde é que você vai? (...) - Pendurar os tomates na arrecadação, doutor, se quiser dê-me também os seus que já não precisamos dos gajos para continuar aqui."
"Não sucede o mesmo consigo? Nunca teve vontade de se vomitar a si própria?"
"os lábios rodeavam-se de pregas concêntricas de ânus"
"petromax (...) contra o qual os insectos se desfazem num ruidozinho quitinoso de torresmos"

"os soldados julgavam-me capaz de os acompanhar e de lutar por eles, de me unir ao seu ingénuo ódio contra os senhores de Lisboa que disparavam sobre nós balas envenenadas dos seus discurso patrióticos"


08 março, 2010

Sobre o ventre com languidez, esperas a espuma revolta em areia. Joga contigo um "toca-e-foge" que numa cadência, ora meiga te acaricia demorada, ora feroz te perfura numa raiva desmedida. Sem queixume e com a serenidade que sempre te conheci esperas um novo jogo, em vão.
Não te reconheces onde estás, não te reconheces onde possas ir. Sabes que não pertences aqui. Deixa que chegue aquele último dia em que tu, tal um dente-de-leão, te disperses na boleia do vento e encontres finalmente o teu lugar.

05 março, 2010

Porque é que as lojas dos chineses têm todas o mesmo cheiro?!

Por vezes num passeio à "beira-lojas" plantado dou comigo a dizer "cheira a loja dos chineses" e quando olho, tcharaaamm!!, lá está ela, uma loja dos chineses. Incrivelmente perturbante!
Aliás estou em crer que, exista inclusivamente um gene que codifique para uma proteína associada ao receptor do odor a "loja dos chineses"...

24 fevereiro, 2010

«Quando a vida morre, a morte nasce e começa a viver, isto é como o jogo de dominó, (...) a vida da morte dura até que morra de velho e de fome o último verme do morto.»
Camilo José Cela in "Mazurca para dois mortos".

20 fevereiro, 2010

Continuando a procrastinar Dostoievski...
Finalmente terminei o "mazurca", na verdade já foi há algum tempo. Estou numa de procrastinação generalizada. Cá fica então o comentário (para quem já o aguarda, impacientemente!).
Um estilo muito peculiar de escrita, onde os diálogos e a narrativa se misturam num passado e num presente, que inicialmente pode ser confuso não só pela forma pouco vulgar como as cenas vão sendo contadas como pela existência de muitas personagens e respectivos nomes e alcunhas em espanhol, claro está. Estas circulam num ambiente situado por altura da guerra civil espanhola e são cheias de características fantásticas como preconceitos atávicos, superstições e promiscuidades.
Contudo, tudo isto é suplantado pela beleza como Cela transforma cenas de grande rudeza e perversão em algo que soa a doce e a cómico.
Parece incrível que o nobel da nossa vizinha Espanha seja tão pouco conhecido entre nós, ao ponto de não existirem exemplares da sua (vasta) obra em stock nas livrarias mais afamadas, sendo necessário encomendar o livro directamente na editora.
Obrigada Eric, por me apresentares este talento verbal.

27 janeiro, 2010

Um dia torno-me super-mulher

mas só quando me apetecer vestir as cuecas por cima dos collants, prender um lençol ao pescoço, enfiar a touca da natação pela cabeça abaixo, pegar no meu atestado de sanidade mental, e por fim sair de casa para me misturar com os comuns cidadãos, enfrentando adamastónicos perigos, tais como: calçada portuguesa minada ...de bosta canina, septuagenários em modo marcha lenta pelo meio da dita calçada impedindo a ultrapassagem por qualquer um dos lados, ou então, um par de septuagenários em modo marcha lenta que teima manter-se de braço dado, mesmo quando há obstáculos na dita calçada e insistindo passar, ao mesmo tempo que uma terceira pessoa, por um espaço onde teoricamente apenas caberiam 2 pessoas de porte bastante elegante!! dias assim só mesmo sendo um SUPER-qualquer e VOAR...VOAR...

20 janeiro, 2010

sobre a mesa-de-cabeceira: Mazurca para dois mortos - C. J. Cela

Vou estrear-me no mundo de C. J. Cela com este Mazurca para dois mortos (oferta do amigo Eric).
Em breve contarei como foi o baptismo...