
Também nunca tinha lido Lobo Antunes. Minto. Por vezes leio as crónicas que escreve para a Visão.
Aparentemente um caos, é uma prosa altamente poética, repleta de flashes de Polaroid que nos encandeiam e despertam as mais variadas emoções.
"gostava (...) de lhe oferece o meu retrato em coração de esmalte para você usar quando for gorda, porque será gorda um dia, descanse, todos nós seremos gordos, gordos, gordos como gatos capados à espera da morte nas matinées de Odéon"
"ouvir nascer a própria barba nos serões vazios"
"iniciei a dolorosa aprendizagem da agonia"
"branco sopinha de massa cujo esforço para falar o torcia de caretas de defecação (...) as bochechas possuiam qualquer coisa de anal e o nariz se aparentava a inchaço incómodo de hemorróida."
"puxando um cobertor de terra por sobre o sangue dos cadáveres"
"galinhas, pássaros imperfeitos reduzidos a um destino de churrasco"
"dentro do útero da minha mulher uma criança prestes a nascer socava às cegas as grades de carne da sua prisão"
"escute-me como eu escutava o rápido latir aflito do meu sangue nas têmporas"
"Perguntei [ao capitão] onde é que você vai? (...) - Pendurar os tomates na arrecadação, doutor, se quiser dê-me também os seus que já não precisamos dos gajos para continuar aqui."
"Não sucede o mesmo consigo? Nunca teve vontade de se vomitar a si própria?"
"os lábios rodeavam-se de pregas concêntricas de ânus"
"petromax (...) contra o qual os insectos se desfazem num ruidozinho quitinoso de torresmos"
"os soldados julgavam-me capaz de os acompanhar e de lutar por eles, de me unir ao seu ingénuo ódio contra os senhores de Lisboa que disparavam sobre nós balas envenenadas dos seus discurso patrióticos"
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