14 junho, 2010

Desço a rua com a chuva miúda a fazer escolta. Passos rápidos, olhos atentos à merda de cão. Marcho ao comando do dever. Perto de mais e sempre tão longe. Quero acreditar que um dia saberei do quê. Por agora apenas sinto que me escorre como esta água que o céu chora. Escapa sem que eu queira apanhar, como a vida escapou àquele pombo quando os olhos se fecharam e os ossos lhe furaram o peito. Para que ter asas se não nos servem, se não nos deixam usá-las? Num dia em cima da árvore, num outro inerte nas pedras da rua enquanto a chuva dilui o sangue da ferida aberta. Mas quando estamos já inertes nas pedras da rua caímos para onde? Ele espera que o cantoneiro o varra para o lata do lixo e eu espero continuar a acreditar que um dia saberei o que é que tenho perto de mais e que se me escapa, sem que eu queira apanhar e por isso sempre tão longe.

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