Caixas de fósforos metálicas electrizadas, mergulhadas nos bolsos da terra onde suor, fadiga, bocejos, espirros e catarros vão ou vêm.
uma mulher com voz colocada anuncia a próxima paragem e segundos depois abre-te Sésamo! Com mais ou menos pressa, trespassam a faixa pintada de amarelo centenas de corpos por dia, uns com mais ou menos vida, uns com mais ou menos vontade de viver, mas todos movidos a obrigação. O estridente sinal sonoro antecede o fechar da porta.
Mescla de cores e cheiros partilha bancos ainda quentes ou um suporte suado onde se agarrar. Troca olhares, quase sempre encontrões. Desfile de pensamentos sem controlo nem radiografia possível que exponha um qualquer pecado capital, uma preocupação ou satisfação.
Numa dessas incursões ao subsolo é fácil encontrar o toque-toque de bengaladas, a par do pregão de auxilio ao ceguinho e dos tinidos de moedas, poucas e de pouco valor, dentro de uma garrafa pequena de plástico cortada. Quando a esmola é generosa e lá cai 1€, parece que ao ouvido apurado pela necessidade chega um som diferente, que faz o cego tirar a moeda do copo e guardá-la no bolso.
Há pelo menos quatro. Sinto pena, impotência e consciência pesada. Da próxima vez darei alguma moedas e depois, às palavras de agradecimento e votos de saúde e boa sorte, responderei com um esgar que, talvez, alguém assemelhe a um sorriso ténue de mais uma obrigação cumprida, mas que ele jamais verá.