28 abril, 2009

armadilha

Agora que passo aqui vejo o libertar agoniante do teu perfume. Vejo como ele se espeta em mim tal agulha que não encontra veia.
Agora sou eu quem exala essa humidade doce, enjoativa. Não está colada, ela já sou eu.
Aprofundas as tuas raízes em mim. Quero vomitar, não consigo, sinto-me sufocar enquanto te estendes cada vez mais.
Absorves como se nunca tivesses comido na vida. Desmaio. O meu sangue já é tua seiva.
Doentiamente vês-me definhar, secar, sem te aperceberes que somos apenas um.
Se pudesse rir, ai como chorava de tanto rir.

23 abril, 2009

teu olhar

Prefiro encarar esse teu olhar como desprezo,
a dor é maior mas a ferida pequena.
no meu banco vejo-te passar
menos vezes do que queria,
mais vezes do que o coração aguenta.
oh pedaço de carne sem Razão!
Tocas ao compasso da adrenalina
uma peça desconhecida em mezzo forte.
E oiço-te e sinto-te repetidamente
só terminas quando queres.
Procuro a sombra,
o restabelecer do equilíbrio quebradiço
camuflado em capa fina.
Prefiro deixar de encarar esse teu olhar.

22 abril, 2009

Dia da Terra

Hoje é o dia da Terra. Não da terra matéria do solo, mas da Terra planeta cujas criaturas habitantes insistem em não preservar os seus recursos - é a ver se o Pai Natal traz outro no próximo Natal. Embora crente no sr. roliço vestido de vermelho, não me parece que ele traga outro, mas só porque não há meninos bem comportados!
Em Portugal, continua a existir falta de educação e sensibilização ambiental, muito esquecimento e falta de boa vontade. Ora veja-se:

  • Parece que o Plano Nacional de Desenvolvimento Sustentável ou caiu em saco roto ou quem o prometeu come muito queijo - regime alimentar, aliás, muito frequente na classe política.

  • Estamos em crise - novidade nenhuma! - mas conseguimos que houvesse um aumento drástico da intensidade energética, ou seja, uma vez que esta é um indicador do consumo de energia em relação ao PIB significa que estamos a consumir mais energia face ao desenvolvimento económico que apresentamos. Será que ninguém se queixa do valor da factura que os srs da EDP nunca se esquecem de enviar?

  • A azelhice na condução, felizmente não toca a todos, e mesmo que toque, há que mostrar o belo do veículo aos transeuntes, estacionar nos passeios e em 2ª fila, não cumprir as mais variadas regras, entretanto já esquecidas, do Código da Estrada, dar a moedinha ao "técnico superior de indicação de lugares de estacionamento à vista de todos", ao mesmo tempo que evita os apertões e pisadelas nos transportes públicos, a cara no sovaco do que está ao lado, os germes e os suores. Atenção: mais carros implica maior gasto energético, mais emissões (maior efeito de estufa/alterações climatéricas), mais congestionamento, mais poluição sonora.

  • 3 100 000 000 000 litros de água são desperdiçados por ano, neste nosso lugarzinho, ironicamente, à beira mar plantado. Jesus Christ!! Nem sei dizer este nº, de tantos zeros que tem! Onde anda a gestão dos recursos hídricos? Diz que a aprovação do Programa Nacional para o Uso Eficiente de Água já foi aprovado à mais de 8 anos - deve estar em águas de bacalhau! Ora vamos lá ter atenção às torneirinhas! Aviso: uso eficiente da água diminui valor da factura mensal.

  • Muito se houve falar em reciclagem. Estamos no bom caminho: reciclamos mais mas ainda é pouco. Em contrapartida esquecemo-nos dos outros 2 R's. Não é pelo facto de haver forma de algum do nosso lixo ser transformado e reaproveitado que nos podemos dar ao luxo de não reduzir o consumo e, consequentemente a quantidade de lixo, e não reutilizar embalagens sempre que possível.

  • O Governo continua a estimular a construção. É bom que não se esqueça dos Planos de Ordenamento do Território para as áreas protegidas.
Contribuamos todos para uma maior sustentabilidade. Em pequenos gestos diários está a diferença e muitos pequenos gestos fazem um grande favor ao planeta e seus habitantes.

21 abril, 2009

metro

Caixas de fósforos metálicas electrizadas, mergulhadas nos bolsos da terra onde suor, fadiga, bocejos, espirros e catarros vão ou vêm.
uma mulher com voz colocada anuncia a próxima paragem e segundos depois abre-te Sésamo! Com mais ou menos pressa, trespassam a faixa pintada de amarelo centenas de corpos por dia, uns com mais ou menos vida, uns com mais ou menos vontade de viver, mas todos movidos a obrigação. O estridente sinal sonoro antecede o fechar da porta.
Mescla de cores e cheiros partilha bancos ainda quentes ou um suporte suado onde se agarrar. Troca olhares, quase sempre encontrões. Desfile de pensamentos sem controlo nem radiografia possível que exponha um qualquer pecado capital, uma preocupação ou satisfação.
Numa dessas incursões ao subsolo é fácil encontrar o toque-toque de bengaladas, a par do pregão de auxilio ao ceguinho e dos tinidos de moedas, poucas e de pouco valor, dentro de uma garrafa pequena de plástico cortada. Quando a esmola é generosa e lá cai 1€, parece que ao ouvido apurado pela necessidade chega um som diferente, que faz o cego tirar a moeda do copo e guardá-la no bolso.
Há pelo menos quatro. Sinto pena, impotência e consciência pesada. Da próxima vez darei alguma moedas e depois, às palavras de agradecimento e votos de saúde e boa sorte, responderei com um esgar que, talvez, alguém assemelhe a um sorriso ténue de mais uma obrigação cumprida, mas que ele jamais verá.